Crítica | 'Heartstopper' é um refrescante retrato do romance jovem entre rapazes

Um quadrinho de sucesso sobre romance entre jovens do mesmo gênero sendo adaptado por um estúdio de tradição e distribuída pela gigante dos streamings Netflix. Essa foi a fórmula para o grande sucesso de "Heartstopper", aquela que parece criar um novo objetivo para outros romances jovens queer.

Charlie é um jovem gay que sofreu com exclusão na escola só para meninos que frequenta. No primeiro dia do ano ele é colocado para dividir mesa com o capitão do time de rugby, o solar Nick. Aos poucos uma amizade se desenvolve entre eles e progressivamente uma jornada de auto conhecimento e romance se inicia.

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É visível aqui o cuidado da adaptação. A autora Alice Oseman acompanhou todo o processo de perto, do casting ao roteiro. Assim temos uma adaptação muito fiel dos personagens, apesar de algumas mudanças narrativas. O elenco foi um grande acerto: Joe Locke e Kit Connor encarnam com precisão o isolado e carente Charlie e o simpático e atlético Nick. A narrativa foca em especial na descoberta de Nick como bissexual e isso é feito de forma primorosa sem esteriótipos tão comuns nas mídias. A delicadesa dessa construção culmina numa bela cena de se assumir para a mãe, esta interpretada pela maravilhosa Olívia Colman numa participação surpresa excelente.

O elenco de apoio não fica pra trás: dando mais espaço que no material fonte, o desenvolvimento do casal lésbico é outro acerto, além do bom trabalho em mostrar uma vivência jovem trans com Elle. Toda a forma como a juventude é retratada é de certa forma refrescante: são realmente jovens de ensino médio para jovens de ensino médio consumirem (além de dialogar bem com pessoas mais velhas). Em meio a uma adultização da idade em outros produtos, "Heartstopper" chega para um local de conforto dentre as séries ocidentais.

Ainda que um resultado tão positivo tenha sido atingido, é de se perceber que poderia ter sido melhor explorada a questão do bullying e inseguranças de Charlie (que tomam boa parte do início do quadrinho). A opção de não se aprofundar tanto nisso para trazer mais leveza a série é compreensível, mas fica a esperança de uma abordagem mais ampla no futuro. O ator, Joe Locke, já demonstrou uma habilidade de trazer o misto de emoções necessário para estas cenas.

"Heartstopper" ocupa bem um espaço que estava vazio dentre as séries jovens anglófonas. O melhor: há um potencial ainda maior a ser explorado no futuro.

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