Entrevista | Aof Noppharnach, diretor de 'Bad Buddy' e '1000 stars' e produtor da GMMTV


A Tailândia é o principal mercado de rodução de BLs live action. Com um crescimento absurdo ano a ano, é esperado que mais de 100 títulos sejam lançados em 2022. E com a popularização das séries, para além dos atores tem crescido o interesse sobre as pessoas que viabilizam essas histórias ganharem vida.

Aof Noppharnach Chaiwimol é um dos criadores de maior destaque na indústria. Roterista, diretor e produtor, tem sob sua responsabilidades sucessos que marcaram o BL tailandês como "He's Coming To Me", "Dark Blue Kiss", "Still 2gether", "1000 Stars" e a mais recente "Bad Buddy". Seus trabalhos ficaram marcados por além do cuidado de produção conseguir inserir de forma natural discussões da comunidade LGBTQIA+ dentro das narrativas BL.

Tivemos a oportunidade de conversar com Aof sobre sua carreira, bastidores da produção das séries, como ele enxerga a indústria e o que podemos esperar.

Como você começou a escrever roteiros e dirigir?
Comecei escrevendo roteiros de curtas-metragens para vários projetos. Então, tive a oportunidade de escrever meu primeiro roteiro para "Ugly Duckling". Depois disso, tornei-me diretor pela primeira vez com "He’s Coming To Me".

De "Gay Ok Bangkok", depois "My Dear Loser" para "He's Coming to Me", como você se envolveu com BLs?
Depois de dirigir "He’s Coming to Me", a maioria das oportunidades que bateram à minha porta estavam todas envolvidas com projetos BL. Pessoalmente, eu assisto trabalhos BLs, então acho que entendo como as coisas funcionam. Outros projetos que se seguiram estão todos envolvidos com o que eu já gosto.

Quais são suas maiores inspirações como criador?
Depende do que é esse projeto ou essa série. Pessoalmente, tenho interesse em atuação. Se eu achar qualquer série desafiadora, ficarei especialmente inspirado por ela. Eu gosto de fazer algo novo.

Como você seleciona uma novel para ser adaptada em série? Como são escolhidos os casais?
Procuro algo no livro que desperte meu interesse em primeiro lugar. Deve vir com um enredo divertido e seu conceito deve ser claro. Mais importante, devemos ser capazes de imaginar como isso se transformaria em um drama. Alguns romances são divertidos de ler, mas provavelmente não são adequados para se tornarem dramas. Quanto aos casais, quando eu olho a história da novel, eu imagino na minha cabeça ao mesmo tempo quem será adequado para cada personagem e quem deve ser selecionado como elenco principal. Então, nos contactamos eles e começamos a negociar. Às vezes, o ator pode não se parecer exatamente com o personagem que está escrito no romance, mas vejo na minha cabeça que deve ser esse elenco.

Quais são as principais dificuldades que você enfrenta como produtor e diretor de série BL na Tailândia?
Como a competição é muito dura com um grande número de séries produzidas a cada ano por outras equipes de produção, devemos tentar melhorar nosso padrão de trabalho. No entanto, vejo isso como um bom ponto porque ilumina nossa indústria de BL.

Aof dirigindo uma cena de Bad Buddy

Quais foram os momentos mais memoráveis nos bastidores que você teve até agora?
Cada projeto vem com problemas diferentes com os quais eu tenho que lidar, então cada série é sempre marcada por um momento memorável, mas se eu precisar selecionar um, eu diria que é depois que nossa série vai ao ar. Me torno então audiência e estou ansioso para ver todos os comentários. O que também é memorável é a parte final de cada episódio. Espero pra ver o público sentindo depois de assisti-lo da forma que desejamos e conseguimos. Esse é o meu momento agradável semanal.

Suas obras são consideradas pelo público como as mais sensíveis sobre questões LGBTQIA+, sem perder a magia que os BLs têm. Como membro da comunidade LGBTQIA+, o quanto suas experiências pessoais influenciam suas séries? Algum trabalho notável sobre isso?
Essa é uma influência tão grande porque, em muitos contextos, é essencial entender verdadeiramente as situações. Se eu não tivesse nenhuma experiência anterior com isso antes, eu não entenderia os detalhes das emoções. Por exemplo, quando eu estava escrevendo a cena de "sair do armário" para a série "He’s Coming to Me", fiquei travado, imaginando como o personagem se sentiria. No final, decidi me assumir para minha mãe para entender como realmente se sente e como é torturante para o personagem enfrentar seu próprio medo e coragem. Eu adaptei essa experiência na minha escrita, e foi uma decisão tão acertada porque aquela cena é impressionante e tem sido comentada até hoje. Às vezes, eu adiciono sutilmente uma questão de casamento LGBTQIA+ ao meu trabalho. O quanto enfatizo depende do contexto de cada projeto. É assim que tenho tentado equilibrar minha mensagem sobre LGBTQIA+ e BL.

Sendo um homem gay, você sempre fala sobre os direitos LGBTQIA+, mas sabe-se que há uma lacuna entre o que é mostrado e a realidade. Você pode falar sobre a situação da comunidade LGBTQIA+ na Tailândia para o nosso público e como o boom do BL é percebido por eles?
Pessoalmente, tenho tentado promover vários direitos que as pessoas da comunidade LGBTQIA+ merecem. Na Tailândia agora, a forma como as pessoas percebem a diversidade de gênero já percorreu um longo caminho em comparação com a forma como era vista antes, mas quanto à lei, devemos continuar trabalhando. Quanto à série BL, tenho tentado encontrar uma maneira de propor nossas reivindicações ou qualquer coisa que possa ser benéfica para as pessoas da nossa comunidade, sem deixar a magia do BL para trás.

Este ano você dirigirá apenas uma série: "Moonlight Chicken". Jojo Tichakorn vem tentando produzir essa história há anos, onde ele queria explorar um escopo mais maduro sobre a vida noturna gay. O que te fez aceitar este projeto? Como Earth e Mix entraram nisso?
Isso mesmo. "Moonlight Chicken" era na verdade o projeto do ano passado, mas devido a certas circunstâncias, foi adiado para este ano. A princípio, quando ouvi a história de Jo, disse a ele que estava interessado e queria escrever o roteiro, mas acabei sendo o dono desse projeto. Comecei a considerar quem seria o elenco adequado. Eu também queria apresentar o Earth e o Mix a novos desafios, então aí vem o Earth e o Mix em diferentes versões de si mesmos.

A popularidade das séries tailandesas BLs disparou nos últimos anos. Um crescimento menor, mas ainda singificativo, foi observado em outros países. Como você se sente em relação ao sucesso da demografia na Tailândia e no mundo?
Acho que é um sinal muito bom que muitas pessoas ao redor do mundo se interessaram pelo nosso conteúdo tailandês, pois desempenha um papel importante na criação de soft power. Assim, as pessoas vão aprender mais sobre a Tailândia.

Você já viu algum BL de outros países? Você os vê como concorrentes?
Eu os assisti, mas não me concentro muito em competir porque acho que já é o suficiente para mim estar competindo comigo mesmo o tempo todo. Ao ver os trabalhos dos outros, eu os assisto como público. Eu os vejo me divertindo. Eu tomo uma posição diferente enquanto assisto: um amante de BL.

Qual seria o seu projeto dos sonhos? O que podemos esperar da Aof no futuro?
Há um projeto novo e empolgante chegando, mas não posso revelá-lo agora. Garanto que será uma surpresa.

Suas séries são muito queridas aqui no Brasil. O que você gostaria de dizer aos seus fãs brasileiros?
Estou muito surpreso, especialmente ao ver o feedback dos fãs brasileiros, porque eu mesmo não conheço muito do povo brasileiro. Toda vez que vejo posts no Twitter ou saudações de fãs brasileiros, fico animado. Normalmente, curto o Brasil quando se trata de Copa do Mundo e carnavais. De qualquer forma, gostaria de expressar meus sinceros agradecimentos. Espero que depois que a situação volte ao normal, eu tenha a chance de visitar o Brasil.

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