O problema dos BLs coreanos


A Coreia do Sul se rendeu ao BL live action relativamente tarde comparado a seus vizinhos. Com um mercado editorial que cada dia atrai mais pessoas, havia uma barreira grande sobre trazer essas tramas a vida devido a preconceitos de investidores. Felizmente após o sucesso de "Where Your Eyes Linger" isso mudou e vemos agora uma produção em massa de (curtos) BLs coreanos. Mas algo tem chamado atenção: desde o êxito de "Light On Me" em meados do ano passado, nenhum outro BL da Coreia gerou uma intensa e duradoura resposta positiva.

A duração que incomoda tantos é justamente devido o formato que é possível fazer com o investimento recebido: são os chamados web dramas de curta duração, algo muito comum por lá. No geral são séries criadas para apps e consumo rápido. Vendo entrevistas de produtores locais, vemos que há sim uma dificuldade de financiar um conteúdo abertamente queer (ainda que seja vendido pro público de BL). Não é difícil enumerar casos de companhias que chamaram o BL de bromance ou atores que somem com as publicações sobre após ir ao ar, há ainda uma resistencia da sociedade sobre esse conteúdo. Apesar de que para muitos a curta duração ser o motivo do gosto insosso que muitos BLs coreanos deixam, a realidade é um pouco diferente se analisarmos mais detalhadamente.

Claro que dramas com mais tempo como "Light On Me" se beneficiam por ter mais espaço para explorar e desenvolver seus personagens. Tivemos ali tempo para se apegar e torcer por todos os três personagens centrais. Contudo se obras como "To My Star", "You Make Me Dance" e a pioneira "Where Your Eyes Linger" são tão amadas, vemos que é possível sim fazer um BL de curta duração realmente bom e memorável com um orçamento pequeno. A partir disso é possível supor que o que diferencia esses BLs curtos dos demais seja o cuidado que o time põe na trama e construção.

A partir dos comunicados de imprensa de lançamentos de muitos BLs, vemos a empresa ressaltando a beleza dos jovens atores e características físicas, deixando o que era pra ser principal em segundo plano: o roteiro. Ser raso não é um defeito para uma trama curta, afinal não dá para aprofundar sentimentos em poucos minutos, mas muitos faltam substância, não nos apegamos àqueles personagens e por fim é incluído um obstáculo (usualmente uma terceira pessoa) para um fim dramático com salto temporal.


Outro detalhe importante é que quase todos BLs até hoje são na verdade filmes fatiados em séries o que nos leva a segunda questão: muitas empresas não conseguem fazer a trama funcionar nos dois formatos. Querendo criar ganchos de fim de episódio, muitas vezes temos montagens confusas onde cenas mais adiantadas na linha temporal são apresentadas antes do que deveriam só pra serem mostradas de novo depois. Houveram casos onde a trama parecia desconectada e até mesmo pouco compreensível, sem falar quando optam por deixar cenas substanciais para a versão em filme. Até mesmo dramas com uma duração maior (a exemplo de "Peach of time"), em certos momentos pareciam vazios e ao mesmo tempo confusos.

Apesar de companhias continuarem investindo no formato curto (Idol Romance em especial, a que mais produziu BLs coreanos até hoje), é perceptível uma tendência de crescimento de mais dramas de média duração (15 a 20 minutos episódios). Com materiais fonte na qual podem se basear e sob mãos mais experientes, "Cherry Blossoms After Winter" e "Semantic Error" são uma esperança de que isso comece a mudar. Vemos cada vez mais declarações de executivos (seja de empresas como Watcha e KENAZ) dispostos a investir no mercado. Com empresas mais tradicionais, talvez tenhamos agora uma estruturação de mercado melhor.BL coreano chamou muita atenção pelos seus visuais de início, mas dois anos depois chegou a hora de ser levado mais a sério por quem produz.

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