Crítica | 'My Beautiful Man' faz um retrato cinzento de seus protagonistas extremamente disfuncionais

Os BLs live actions japoneses sempre costumaram ser bem 8 ou 80: ou algo casto inocente e leve, ou algo extremamente denso e muitas vezes perturbador, onde torcer pelo casal nem sempre é o centro da narrativa mas sim ver até onde esses personagens disfuncionais são capazes de ir. Apesar de uma roupagem estética do primeiro tipo, temos em "My Beautiful Man" um caso do segundo.

Acompanhamos o excluído social Hira, que desenvolve uma atração inexplicável e fatal por Kiyoi, um calado rapaz que é tido como o rei da sala. Mesmo o chamando de esquisito e com certo grau de repulsa física contra Hira, este vê em pequenos atos de neutralidade ou complacência um meio de ficar perto daquele pelo qual ele é completamente obsecado.

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"My Beautiful Man" vai na contramão de outros BLs japoneses televisivos ao investir num retrato nada convencional. Aqui vemos o desenvolvimento de uma obsessão doentia de uma pessoa que não consegue entender afeto por um narcisista inveterado. Ainda que desgastante assistir o quanto Hira se submete aos outros, o público é aguçado a ver até onde ele é capaz de ir.

Ambos os personagens são detestáveis. Se temos empatia pelo Hira por ser excluído e sofrer bullying, não há como desviar do quão insano ele é e a latente psicopatia do personagem, disposto a coisas extremas em defesa de seu "rei" numa eterna recusa de qualquer tipo de afeição. Já Kiyoi é soberbo e babaca, centrado em si e inábil de se expressar, o que leva ele e Hira a conflitos físicos que nos faz questionar se eles podem funcionar de alguma forma no futuro. A série teria se beneficiado de mais um pouco de tempo para explorar melhor a relação de Hira e seu amigo e o entendimento de Kiyoi sobre o que ele gosta em meio aos tentadores convites do mundo da atuação. Ainda teria propiciado um desenvolvimento real do sentimento deste para com aquele, que pareceu muito apressado. Apesar de termos aqui dois protagonistas deploráveis, a toxicidade de um contra o outro não ultrapassa o limite penal que outras séries costumam avançar só para redimir em nome do amor: aqui os abusos de ambos continuam sendo mostrados como absurdos até o fim.

Em termos de produção, a série é bem finalizada e tem uma montagem eficaz e agradável. A química da diretora com Hagiwara Riku é perceptível e o ator entrega uma ótima performance como Hira. Yagi Yusei é funcional em seu primeiro papel, mas demonstra um grande talento no último episódio.

“My Beautiful Man” é uma amostra do que já vimos no BL japonês do cinema ou adulto: caótico, recheado de personagens questionáveis e uma trama cinzenta. Mas teria se beneficiado mais com uma duração maior que permitisse explorar melhor seus protagonistas.

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