Crítica | O remake de Hong Kong de 'Ossan's Love' entrega uma apaixonante comédia corrigindo falhas do original

O sucesso de Ossan’s Love em Hong Kong havia sido tanto em 2018 que a sua sequência, Love or Dead, foi gravada lá. Eis que em 2021 somos surpreendidos que a rede local ViuTV usaria de seu casting de idols para fazer um remake, nascendo assim o primeiro BL em cantonês! Mas será que refazer uma obra de tanto sucesso e tão recente seria uma boa?

Acompanhamos a bagunçada vida do relaxado Tin (Edan Lui), um corretor não tão bem sucedido que um dia descobre que seu chefe, KK (Kenny Wong), além de apaixonado por ele quer pedir divórcio da esposa para tentar esse romance. No mesmo dia, seu colega de quarto, Siu Muk (Anson Lo), também se declara.

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Como um remake, essa versão foi extremamente fiel. Diversas cenas foram recriadas quase que quadro a quadro e isso poderia soar como algo ruim. Contudo, o grande êxito aqui foi sanar diversas deficiências do original. Com mais tempo, as ações e confusões sentimentais dos personagens são mais compreensíveis. Edan entrega um Tin tão cativante e apaixonante quanto o Haruta de Tanaka Kei, mas dessa vez a construção do personagem é mais clara, com os conflitos melhores desenvolvidos em tela. As versões de Kurosawa e Maki, aqui chamadas KK e Siu Muk, se distinguem mais do material fonte. Apesar de KK continuar a ser invasivo em certos momentos, o seu sofrimento e hesitação constante o deixam bastante carismático, além que ao explorar mais as reações do Tin ele parece apenas ir até onde o amado deixava. Muk é uma inversão total do que tínhamos no Maki. Se lá ele era um jovem gay confiante e energético, aqui vemos um rapaz contido, marcado pelo passado e apesar de querer ser amado o medo social o perpassa muito mais.

Com isso o romance é mais verossímil para o público e o acréscimo de Tin e Muk vivendo como casal enriqueceu bastante. Outro ganho foi a forma aberta como os personagens falam de sua sexualidade e medos sociais, sem cair num realismo fatal que muitas vezes tira o prazer do público. Os personagens secundários também brilham, em especial o elenco feminino, como a carismática Carmen, Tze Chin e Francesca. Esta em particular, tem um belo arco de esposa traída a mulher divorciada que encontra num romance inter geracional o afeto que precisava. Ao passo que esses personagens eram carismáticos, o tempo dado em alguns episódios incomodou, sobrando pouco para a trama principal entre os três protagonistas.

Em termos de valor de produção, a série é bem finalizada com poucos erros técnicos. Algumas atuações em certos momentos soam rasas, mas em especial o trio central entrega um trabalho consistente. A direção conseguiu mesclar bem o exagero japonês com referências locais de Hong Kong, além de entregar ao público muito mais afeto que a obra original. Para um primeiro BL, é compreensível a escolha por algo mais “contido” nesse departamento, ainda que fique um gosto de quero mais devido a forma natural que os atores interagem fora das câmeras.

“Ossan’s Love” é um promissor começo para o território de Hong Kong. A boa recepção pode abrir um fértil mercado e nos resta a esperança de vermos mais de Tin e Muk num futuro próximo.

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