Entrevista | Kang Woo, diretor de 'Long Time No See' e produtor da Strongberry

Quando falamos sobre BL, sempre a Coreia vem por último em nossos pensamentos. Apesar da onda de BL estar crescendo de pouco em pouco no país ainda carece de conteúdos, mas antes do país do leste asiático embarcar nessa onda, uma produtora já entregava produções de alto nível e também de diversos rostos.

Strongberry é uma produtora sul-coreana muito respeitada e premiada que vem entregado diversos curtas e filmes LGBTs, incluindo GLs, com temas variados poucos explorados em BLs que conhecemos. Por isso, d
ando seguimento a nossos especiais do mês do orgulho LGBT, convidamos Kang Woo, produtor e diretor do selo independente, para bater um papo conosco sobre a realidade da produção de conteúdo LGBT independente na Coreia do Sul.

Seus filmes, 'Long Time No See' e 'Some More', são bastante amados por muitos fãs de BL e eram um oásis antes de empresas sul coreanas investirem no mercado. Seu próximo curta, o terror erótico 'Sweet Curse', ficará disponível próximo dia 1 de julho pelo Vimeo.

Quais foram suas motivações quando a Strongberry foi criada?
Permita-me introduzir nossa produção de filmes primeiro. MATCHBOX, uma companhia de produção de filmes, planeja e produz longas e curtas de todos os gêneros para transmitir diversidade social nos filmes. STRONGBERRY é um selo de produção de filmes queer sob a marca MATCHBOX. Os valores cinematográficos e motivação da STRONGBERRY são voltados ao crescimento quantitativo de filmes queers para que pessoas tenham acesso mais fácil e confortavelmente a esse conteúdo e também espalhar mensagens positivas e boas influências através desses filmes queers.

STRONGBERRY tem mostrado uma vasta variedade de temas e diferentes retratos de gays, lésbicas e pessoas bi. Como é o processo criativo por trás dos curtas da companhia? Como os roteiros e elencos são escolhidos?
Eles são financiados para a produção e são financiados de forma interna (pela companhia). Primeiro, temos um planejamento de produção com o diretor ou autor que tem uma boa ideia de história e quando a produção é confirmada, nós avaliamos o cenário diversas vezes através do desenvolvimento da história e então selecionamos o ator protagonista através de audições abertas. E organizamos a equipe que se encaixa do orçamento e filmamos. 

Trabalhar com obras LGBT não é fácil em nenhum país, especialmente em uma sociedade tão conversadora como a Coreia do Sul. Quais as dificuldades você enfrenta como um criador abertamente LGBT? 
Sim, a realidade é que grupos indivíduos LGBTQ+ ainda são atacados e odiados por grupos conservadores na Coréia. Ainda bem que a percepção de LGBTQ+s nas artes tem melhorado e melhorado muito comparado ao passado, incluindo filmes. Ainda, como um criador LGBTQ+, a maior dificuldade em produzir filmes queer é levantar fundos. Isso porque os investidores não estão dispostos de adentrar na realidade.

Qual seria seu sonho como produtor/diretor e sua referência em cinema?
Como produtor e diretor, meu maior sonho é construir uma influente e auto suficiente companhia de produção que possa ajudar novos diretores que querem fazer filmes queer sem preocupações sobre custos de produção. Minha referência em produção de filmes é que eu assisto o máximo de filmes comerciais e independentes possíveis. O mais impressionante que assisti recentemente foi 'Your Name Engraved Herein', um filme taiwanês, que me inspirou também.

Que temas/tramas você gostaria de produzir no futuro?  
Hoje, penso que filmes queer tem que ser diversos quanto ao gênero. Pessoalmente, eu gosto de terror, então recentemente fiz um curta queer de terror. Também estou pensando em fazer um filme de antologia com algumas tramas curtas sobre a morte de um amado LGBTQ+. Tem muitas tramas, mas é pouco claro se teremos um ambiente de produção que propicie elas. Estou apenas tentando meu melhor, só isso.

Representação LGBT na mídia sul coreana é bem limitada, apesar de uma presença forte de idols e personagens queercoded. Poderia contar à nossa audiência qual a real situação de pessoas LGBTs na sociedade coreana? Há alguma perspectiva de melhora num futuro próximo?
Hoje na Coreia tem um abaixo assinado buscando por financiamento para a Lei contra Descriminação de Minorias Sociais. Mas a realidade é que estamos tendo dificuldade de atingir a meta. Algumas minorias sexuais são relutantes em participar do abaixo assinado devido o ódio violento e o medo de se assumir na sociedade. Sociedade coreana é generosa com queer coding, mas também tem uma grande resistência com LGBTQs quando eles se expõe ao sol. Politicamente, a questão LGBTQ+ ainda está em banho-maria. Mas não é como se não tivesse esperança alguma. Apesar de lento, acho que a questão LGBTQ+ tem sido carregada por ativistas e apoiadores e acho que a consciência social sobre tem melhorado aos poucos.

Desde 2020, várias companhias tem produzido web séries BL para o mercado estrangeiro, ainda que algumas poucas tenham adentrado no top 10 do Naver Series e Netflix. Isso mudou algo sobre como as companhias veem esse tipo de conteúdo? Assistiu alguma dessas obras?
Sim, vi vários trabalhos. É verdade que a tendência de produzir web séries BL surgiu recentemente e expandiu quantitativamente. Contudo, tem desvantagens para pequenas companhias que se encaixam na categoria. Uma das razões é das questões de abordagem comercial. Claro, é importante para o filme ser comercialmente bem sucedido, mas acho que é muito importante também que o filme inclua um reflexo suficiente e mensagens sobre LGBTQ+. Por isso que acho que diretores LGBT devem entrar no mercado de BL, queer e web séries mais e produzir em massa seus conteúdos. Para isso ser possível, as barreiras para conseguir entrar devem ser mais baixas para facilitar o acesso e os custos e sistemas de produção de grandes investidores deve ser divulgado mais abertamente. Isso pois ainda há muitos pontos onde obras são produzidas e mostrar de um olhar de fora, não LGBT. De qualquer forma, acho que o mercado de filmes, dramas e web séries BL será maior, mais desenvolvido e mais diverso

Seu trabalho é bastante amado aqui, incluindo 'Long Time No See' e o curta 'Some More'. O que podemos esperar de projetos futuros da Strongberry? Alguma mensagem para nosso público brasileiro?
Antes de mais nada, queria expressar minha sincera gratidão a todos que amam meu filme 'Long Time No See' e meu curta 'Some More'. Apesar da dificuldade financeira, MATCHBOX e STRONGBERRY planejam produzir novos curtas queer e BL. Quero continuar a fazer longas queers, mas há as dificuldades em receber ou angariar custos de produção e há diversas barreiras a superar junto à questão do COVID-19. Eu sei que há muitos fãs que amam e apoiam nosso filme no Brasil. Com grande apreciação e respeito aos brasileiros, gostaria, um dia, caso o COVID-19 esteja finalmente superado, e as dificuldades superadas e custos de produção estabelecido, queria conduzir uma gravação num local bonito no Brasil.

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