Por que as sequências tem desagradado?

Um grande fantasma paira sobre os BLs: as segundas temporadas. Apesar de ser o desejo de todos quando uma série que gostamos se encerra, as experiências negativas anteriores tem feito com que boa parte do público não queira continuações, ainda que goste tanto da primeira temporada. Mas por que tão poucas séries sucederam em suas sequências?

Um dos grandes problemas que se enfrenta é que o enredo de grande parte das obras BL gira em torno dos protagonistas se tornarem um casal. Histórias cujo única trama é como o casal irá ficar junto oferecem uma dificuldade grande e muitas autoras e roteiristas não estão habituados a trabalhar o casal já estável. JittiRain, autora de sucessos como "Theory Of Love" e "2gether", já se manifestou ser contra sequências pois acredita que a história dos casais já está completa.

Mas demanda mercadológica é diferente de demanda criativa e muitas empresas se aventuram em sequências. Quando se arrisca a se fazer uma temporada seguinte completa, as reclamações do público são sempre as mesmas: os personagens parecem ter retrocedido, tramas de traição e ciúmes excessivos e falta de afeto para um casal já estabelecido.

Na estrutura narrativa de uma série comum, é necessária alguma trama para gerar conflitos que se sustentem por toda a duração da nova temporada. Esse conflitos não precisam ser exagerados ou envolver término e traições, mas a ausência total deles, com apenas cenas fofas se alongando por diversos episódios não prenderão a atenção do público e resultarão numa audiência mais baixa. E talvez esse seja o problema: a maior parte dos roteiristas não sabem equilibrar isso.

A possibilidades do casal retroceder alguns passos já foi aplicada de formas diferentes em BLs. Há casos onde isso é literal, como em "Love By Chance 2" (onde recontaram totalmente a trama do então casal principal), em outros se retrocede para poder trabalhar o ponto de vista ainda não explorado de um personagem, como foi no caso de "Hello Stranger: The Movie". Ainda há a possibilidade uma estagnação mesmo com passagem temporal, como "SOTUS S", onde o retraimento de Artiht não condiz com os anos passados entre as duas séries, e "Dark Blue Kiss", onde isso é usado como artifício para contar o lado de Kao, pouco explorado em "Kiss Me Again". Pelos exemplos dados, vemos que às vezes pode ser desastroso, mas em outra pode ser um bom caminho a ser seguido, ainda podendo desagradar parte do público.

A opção de desentendimentos exagerados para impor barreiras grandes aos casais já se demonstram uma faca de dois gumes: as discussões se tornam calorosas e o engajamento sobe, mas é inevitável que se gere um desgaste no público que tinha uma memória afetiva com o personagens.

Uma possibilidade que se mostrou boa foi fazer especiais (ou uma série de especiais) ao invés de uma temporada completa. Além de usualmente não ter de seguir um material fonte, propicia um espaço mais interessante de se trabalhar: não é necessária uma trama única que sustente 12 episódios, é possível fazer contos sobre o cotidiano do casal recheados dos momentos fofos que o público tanto deseja. A própria JittiRain que citamos mais cedo não se opõe a especiais, tendo o especial de "Theory of Love" e "Still 2gether" tendo sucedido na intenção de revisitar os casais com uma abordagem mais doméstica.

Talvez uma opção não explorada em séries BL até hoje seria abandonar completamente o formato de arco único na temporada e adotar uma estratégia episódica. Uma série não BL mas de caráter homoafetivo que fez muito sucesso no Japão, "What Did You Eat Yesterday?", mostra como pode ser gratificante a estrutura narrativa dessa forma, onde diversos contos sobre a vida do casal são usados para explorar diversas facetas da vida a dois, ainda que conflitos pontuais fossem retomados no decorrer dos episódios de forma a costurar a trama. A estrutura funcionou tão bem que especiais já foram lançados e um filme está a caminho.

Mas há duas promessas para esse ano: tanto "Gameboys" quanto "I Told Sunset About You" foram aclamadas pela habilidade dos roteiristas de construir as tramas. Será que finalmente teremos um bom exemplo de sequência de BL?