"É muito bem feito, é um drama de verdade, não um BL" não é elogio





Com o aumento das produções, um discurso bem negativo tem surgido: quando uma obra tem uma trama além do romance ou é mais bem finalizada na parte técnica, surgem pessoas dizendo que por isso ela não é BL. Essa confusão de deve em partes à concepção de que BL é sinônimo de romance jovem entre homens feito no leste e sudeste asiático e não é bem assim.

Para facilitar esse entendimento, pensemos BL não como um gênero em si. "Boys Love" funciona como uma demografia editorial (Japão) ou um mercado alvo (demais países) que dita alguns elementos que a obra conterá. Não significa que será entre jovens (boys) e não significa que o foco necessariamente será o romance (love).

No Japão, isso trás uma certa segurança: quem vai atrás de um BL, é porque sabe que, de alguma forma, terá algo homoafetivo/homoerótico ali. Isso não significa que só há relações afetivas entre homens em mangás BL. Há personagens e casais gays em histórias publicadas em outras demografias, além de todo o mercado de gay comic (pejorativamente chamado de "Bara"), feito de homens gays para homens gays e comumente com um foco erótico. Detalhe curioso: a mídia não especializada em publicações de BL no Japão ocasionalmente usa "BL" como um "aviso" de que haverá algo entre homens no produto, como ocorreu com a NHK e seu especial Black Art Collection - Testimony-.

Como um mercado que existe há 40 anos e com centenas de histórias publicadas ou lançadas todos os meses, é importante ter em mente que o conceito inicial de romance entre jovens se expandiu e muito. Muitos são sim romances leves mais simples, mas há BLs de diversos gêneros: comédia, horror, ação, thriller, erótico e com personagens de diversas idades, jovens até adultos de meia idade. Não necessariamente será algo fofo, nem todos serão altamente sexuais e alguns até com aliens e criaturas fantásticas.

Alguns clichês batidos e produções mal acabadas vem mais de segurança financeira: é caro produzir e é incerto o retorno. Como dramas estudantis atraem um público mais amplo, tornaram-se um porto seguro das produtoras. Essa realidade ficou tão afincada na cabeça de quem só conhece os live actions (em especial tailandeses) que parece que BL é apenas isso.

Temos de lembrar ainda do estigma que o termo carrega em muitos locais. Apesar de certa forma essa separação facilitar o comércio e evitar reclamações, trás um peso devido a misoginia existente de que um mercado feito para mulheres jovens é algo "menor". Um caso curioso ocorreu no Japão: "Ossan's Love" é uma série de roteiro original, portanto não se enquadrava de início na classificação clássica japonesa das demografias editoriais. Sua companhia, TV Asahi, não a vendeu como um BL. Muitos artigos da época enfatizavam como era libertador para as fãs de BL poder assistir algo junto à família, mas uma parcela do público rejeitava o rótulo "Boys Love". Mesmo não tendo sido lançada de início especificamente como BL, o sucesso da série abriu portas para adaptações de diversos BLs no Japão, desde animações como "Umibe no Étranger" a doramas como "Cherry Magic", e hoje "Ossan's Love" é visto como o ponto de virada pro BL live action no país e é listada no ChilChil (maior site japonês de boys love) como um.

Portanto, não é difícil vermos produtoras ou atores em entrevistas tentando separar seu produto do rótulo BL (dizendo que a série é "mais que um BL") a fim de tentar convencer um público que tem preconceito a consumir o conteúdo. Apesar disso poder atrair um público mais cético, não se deve repetir esse discurso. Por outro lado há outras pessoas da indústria que defendem essa pluralidade do conteúdo vendido como BL, além dos romances de estudantes de engenharia e medicina e médicos.

Aos poucos, dramas e filmes com um investimento mais alto e tramas diversificadas tem surgido e já chegou a hora de deixar essa preconcepção sobre o BL live action para trás.

Postar um comentário

0 Comentários