Artigo | Não, o problema dos BLs tailandeses não são serem baseados em livros de autoras

image description Chiffon Cake, autora da novel de 2moons, com o elenco da segunda adaptação da obra

Com outros mercados aumentando sua produção de BLs live action, surgiram questionamentos do porquê séries com um orçamento menor de outros países pareciam melhor finalizadas que grandes séries tailandesas. Num impulso calcado em pré concepções e rejeição ao que é feminino, pessoas falam que é por serem adaptações de novels escrita por mulheres. Só que esse argumento prova-se infundado se olharmos os outros mercados...

Com exceção das Filipinas, onde criadores LGBTs viram no sucesso de "2gether" no país um espaço para criar suas histórias para uma audiência até então ignorada, todos os demais países tem BLs roteirizados, dirigidos ou baseados em obras de mulheres e são extremamente amados pelo público que consome live actions. Então porque há uma diferença tão sensível nas obras?

image description I Told Sunset About You produzido pela Nadao Bangkok tem uma produção rica em detalhes e direção

1. Estilo Audiovisual Local

O primeiro grande motivo é cultural: cada país terão seus ângulos, seu estilo de atuação e seu ritmo. Enquanto a Coréia ficou famosa pelas imagens que parecem sonhos, Japão pelo exagero e Filipinas não escondem as influências hispânicas, a Tailândia tem uma tradição diferente. É uma edição que causa estranhamento de início, mas depois nos acostumamos. Obras como "I Told Sunset About You" e "Bangkok Love Stories: Innocence" foram feitas por estúdios conhecidos por dar um tratamento mais "internacional" às suas séries, por isso uma diferença tão grande. Vale lembrar ainda que o formato de "série" que todos os BLs até hoje inclui algo mais compacto e uma produção menor se comparada aos lakorns. Veremos com mais clareza essa diferença quando "Teddy Bear Miracle", o primeiro lakorn BL, estrear.

image description Em My Engineer, o famoso clichê ‘estudante de engenharia’ presente em BLs tailandeses é o plot central da série

II. Sim, algumas novels são datadas de fato

Os BLs japoneses que influenciaram o tailandês são os dos final dos anos 90 e início dos 2000. Ao contrário do Japão, onde a expansão do mercado possibilitou uma variedade imensa de tramas e cenários sendo adaptados, muitos clichês antigos de BL resistiram ao longo do tempo como centrais nas tramas tailandesas. Como de fato há muitas histórias datadas com uma grande fã base (em especial as famigeradas tramas universitárias e de engenharia), devido a dificuldade de financiamento que as companhias tem quando se trata de um BL no país, essas acabam sendo a primeira opção para serem adaptadas. 

image description O serviço taiwanês GagaOOLala tem investido desde a sua fundação em financiamentos para produtores de Taiwan e regiões vizinhas.

III. Dinheiro

Não é que não se tenha tramas inventivas, modernas e populares nas novels tailandesas, elas só são caras de adaptar. Iniciado como um investimento de companhias independentes e sem certeza de retorno, as empresas não podem se arriscar ao resolver fazer um BL pois as marcas até muito pouco tempo atrás tinham reservas sobre investir no mercado, ainda mais quando a trama é espinhosa. A menos que uma grande companhia ou uma autora muito popular assine o projeto, é improvável que essas novels tão diversas vejam a luz do dia como live actions.

No Japão, Coréia e Taiwan, os BLs produzidos até hoje são projetos financiados ou por empresas de streaming (como Rakuten, KKTV, GagaOOLala), ou financiamento coletivo ou até mesmo redes de TVs tradicionais (como TV Asahi e Tokyo TV). Em teoria, essas séries já iniciam sua transmissão "pagas", seja pelo financiamento, incentivo de companhia ou publicidade. Já o BL tailandês será pago enquanto e depois de ir ao ar com promoções extras dos atores. E aí chegamos ao último ponto.

image description Mesmo após 4 anos de Sotus, Krist e Singto ainda promovem conteúdo para o seu ship

IV. O BL tailandês sobrevive por causa do ship, não da série

No relatório mais recente da LINETV e artigo do The Matter e Bangkok Post, fica claro que o mercado doméstico tailandês tem ciência que o que impulsiona o BL é primariamente a química dos atores principais. Divulgados à exaustão pelas fãs, eles acabam atraindo anunciantes e parcerias que são o que verdadeiramente tornam a série lucrativa (ao contrário das séries hétero, onde mesmo com menor exposição, os anunciantes se demonstram mais interessados). Isso gerou uma situação de comodidade para os produtores: atores que soubessem vender um bom fan service seriam o suficiente para trazer dinheiro a produção, não havendo uma obrigação real de refinamento da série.

Contudo a atitude das fãs tem mudado: o sobre uso dos atores como interesse por marcas e um mercado que começa a dar sinais de saturação (inclusive competição com séries de outros países que começaram a invadir a cena local, como o sucesso recente de "Cherry Magic") desestabilizam a zona de conforto que os produtores tailandeses se colocaram.

O anúncio de produções como "I Told Sunset About You", "Manner of Death", "Teddy Bear Miracle" e "A Tale of a Thousand Stars" indicam que agora, além de um investimento maior, as companhias viram que as mesmas histórias de universitários com jalecos de engenharia com dois rostinhos bonitos que vendem a ilusão de um casal fora das câmeras talvez não seja mais suficiente. Isso não significa que não veremos BLs questionáveis fazendo sucesso devido seus protagonistas nos próximos anos, mas sim que há uma tendência de agora teremos obras cada vez melhor finalizadas, pois há opções tanto domésticas quanto internacionais.

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