Crítica | 'Your Name Engraved Herein' é uma bela fábula do não dito e do que poderia ter sido


A maior bilheteria do ano em Taiwan, o longa "Your Name Engraved Herein" do cineasta Liu Kuang Hui é um trabalho de recriação preciso de um período conturbado da história do território. Após a suspensão da Lei Marcial, muitos adultos não aceitavam as mudanças iminentes, mas os jovens queriam sonhar com um futuro diferente.

O longa segue pela perspectiva do personagem A-Han, interpretado por Edward Chen em seu primeiro grande papel no cinema. Um jovem confuso sobre o que ele é, se vê envolto na realidade militarista e homofóbica que vive. Ele vê Birdy (Tseng Jing Hua) como um rebelde, que lhe instiga a viver. Mas esses dois terão alguma chance na Taiwan dos anos 80?

A opção por retratar apenas os sentimentos de um dos personagens deu ao filme uma atmosfera incômoda, que casou bem com o caos político do tempo onde a história se passa. Ao ver os outros julgarem eles sem nunca vermos em tela o motivo de tudo aquilo, é passada uma angústia que nos faz se conectar mais ao protagonista. Entretanto, mais que a relação de A-han com Birdy, nos conectamos com a amizade dele com o padre da escola, um quebecóis que se vê no protagonista e quer evitar que ele sofra o que ele sofreu. 

Além da interpretação de Edward Chen (que merecidamente foi indicado a diversos prêmios de ator revelação pelo papel), o grande trunfo do longa é sua trilha instrumental e canção original. O uso recorrente de algumas faixas instrumentais e da canção acabam por evocar o sentimental do público muitas vezes mais que os acontecimentos em tela.

No último terço do filme, no lugar de resoluções, são trazidos questionamentos: o que poderia ter sido caso tivéssemos a liberade de hoje? Foram usadas homenagens à clássicos do cinema LGBT, como "Happy Together" (Wong Kar-Wai, 1997) e "Brokeback Mountain" (Ang Lee, 2006), para contar essa nova perspectiva, que estes filmes não puderam fazer em sua época.

"Your Name Engraved Herein" foi criado como uma memória onde o dito não é o mais importante, mas sim o sentimento que existiu. A esperança de um futuro melhor prevalece sobre o passado sofrido.

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