Crítica | 'His' da adolescência a vida adulta, uma representação positiva (e realista)


Iniciado como um projeto pequeno de uma emissora da prefeitura de Nagoya, "His" é uma parceria entre o roteirista Atsushi Asada e o diretor Imaizumi Rikiya. A mini série estreou em abril de 2019 e fez um sucesso moderado na prefeitura. Com sua sequência, 'His' se tornou uma boa representação dos conflitos dos gays japoneses da adolescência a vida adulta. 

Shun (Kusakawa Naoya) é um jovem de pais divorciados que vai passar um tempo com seu pai nas praias de Fujisawa na primavera. Lá ele conhece o solitário Nagisa (Kura Yuki), que trabalha numa casa de banho e surfa nas horas vagas. 
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image description Pôster promocional da série


No longa continuação da mini série, lançado em circuito comercial em fevereiro de 2020, vemos Shun (Miyazawa Hio) e Nagisa (Fujiwara Kisetsu) agora próximos aos seus 30 anos tendo de lidar com as escolhas da vida adulta. Por dúvidas e inconsequência de Nagisa, que queria explorar a vida, Shun viveu anos sofrendo com a solidão. Até que decide recomeçar num vilarejo povoado em sua maioria por idosos, largando a vida dos escritórios para virar agricultor. Ele só não esperava que Nagisa fosse reaparecer em sua porta com uma filha. 

A qualidade de produção se manteve, contudo o tom muda drasticamente. O que antes era uma descoberta de romance adolescente, agora é um pesado drama familiar que toca em pontos como direitos civis e percepção social de casais homoafetivos, além claro, do perdão e do direito de recomeçar. 

Algumas legendas malfeitas deixaram confuso o processo que o Nagisa passa, mas a mensagem do filme é clara: ele foi um homem gay que foi seduzido pelo ideal da vida “hétero perfeita” que é tão impregnada na mentalidade do Japão. Shun, que havia esquecido de si, não vai facilmente aceitar o amado de volta, apesar de todas as lembranças boas que partilharam por cinco anos. 

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image description Miyazawa Hio, Fujiwara Kisetsu e Sakura Sotomura


É recorrente em séries e filmes japoneses a discussão sobre guarda das crianças e isso se dá pois no país não há guarda compartilhada. Caso o divórcio seja concluído de forma conturbada, é comum que a criança perca contato total com um dos pais. E esse é grande trunfo do filme: mostrar como a homofobia e misoginia estrutural podem ser usadas como forma de demonizar ambos os pais da pequena Sora. 

Nagisa, por ser gay, seria considerado indecente e incapaz de continuar a criar a filha. Fumiko, por ser uma mulher com uma carreira em ascensão, não seria capaz de dar amor à sua filha. Ambas as armas são exploradas pelos advogados dos personagens até a conclusão realista da saga. 

"His" poderia ter facilmente vilanizado as personagens femininas tanto da fase da adolescência, quanto na fase adulta, mas optou por humaniza-las. Elas não são nem shipers, nem vilãs. Elas são mulheres com seus sentimentos bem justificados que por algum motivo cruzaram com esses dois rapazes que se amam. 

O longa teria se beneficiado caso as algumas das cenas excluídas tivessem sido incluídas no corte final. Sem elas, algumas transições temporais, apesar de perceptíveis, fazem os sentimentos dos personagens não terem a mesma progressão e fluidez que foram apresentados na mini série. 

Contudo, "His" é uma dualidade: confortante e de fácil identificação sobre o retrato do primeiro amor e um choque sobre a realidade da vida adulta. Uma obra que conseguiu se inserir entre a fantasia exagerada do BL e a tragicidade dos filmes LGBTs produzidos na região.

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